Free Talk 77 - UEFA Euro 2012


Depois da Copa do Mundo, a Euro Copa é um dos meus favoritos entre torneios de futebol (depois vem a Champions League), muito se fala que é uma Copa sem Brasil e Argentina, e concordo com esse raciocínio porque a atmosfera é muito semelhante com o torneio que reúne todas as seleções do mundo, os países param, a torcida se junta nos mais diversos locais, algo totalmente diferente quando falamos de uma Copa América aqui no Brasil. Infelizmente, perdemos muito a identificação com nossa seleção nos últimos anos. Para nós que somos meros telespetadores e não temos relações diretas com os países é divertido ver 16 países jogando o melhor que podem para conquistar o status de ser uma das melhores seleções do mundo, como se ganhasse uma Copa do Mundo.

A taça da Euro, o segundo "caneco" mais cobiçado do futebol
É uma pena que esse torneio só aconteça a cada quatro anos, outro fato a se constatar é que na próxima edição da Euro, em 2016 com sede na França, o número de participantes passará de 16 para 24 seleções pela primeira vez, e terá mais uma fase eliminatória, as oitavas de final. Com essas alterações, vai passar a ficar mais semelhante com a Copa, que tem 32 participantes. Preciso ver na prática essa nova fórmula para ter uma opinião mais concreta, ainda prefiro o atual formato com 16 países, fica mais compacto e fácil de ver jogos clássicos, quando se tem tantos times acaba-se perdendo um pouco dessa possibilidade de termos grande seleções no mesmo grupo na primeira fase.

Logo de candidatura da França para Euro 2016
Agora, antes de falarmos especificamente da edição deste ano da Euro (que foi sensacional), vamos a um pequeno resumo do que aconteceu nas duas competições anteriores, que tivemos a sorte de assistir na TV aberta pela Rede Recorte Record, porque se dependessemos da TV Bobo Globo nem saberíamos que existia campeonatos europeus:

UEFA EURO 2004 - PORTUGAL


A expectativa depositada no país que sedia qualquer competição é muita grande, ainda mais quando se tem um bom técnico, uma promessa e jogadores de qualidade consagrados, e esse era Portugal que chegou a final histórica contra a Grécia, surpreendente por seu futebol extremamente defensivo e seu caminho difícil para chegar ao título inédito.

Beckham lamenta a eliminação diante dos portugueses na quartas de final
Na primeira fase, as decepções da competição foram a Alemanha, então vice-campeã mundial, voltar para casa antes do esperado com dois empates e uma derrota; e a Itália (vice da Euro passada), ficando de fora da segunda fase por causa do saldo de gols. Nas quartas de final, Portugal conseguiu uma dramática classificação frente o English Team nos pênaltis após um empate por 2 a 2, enquanto na semi-final teve menor dor de cabeça ao vencer a eterna fracassada Holanda por 2 a 1. No outro lado, a Grécia que estreou vencendo os anfitriões, passou pela temível França, campeã da Euro 2000, e República Tcheca, que fazia um campeonato sensacional com trê vitórias de virada no grupo da morte e uma goleada diante da Dinamarca.

Tudo se encaminhava para um desfecho mágico para os portugueses, porém esqueceram de avisar os gregos que venceram novamente os donos da casa, agora por 1 a 0 no Estádio da Luz no dia 04 de Julho de 2004 na frente de aproximadamente 63 mi expectadores e milhões de telesctadores para desespero do jovem Cristiano Ronaldo que tanto ouvimos falar hoje e para a decepção de Luiz Felipe Scolari, então técnico do selecionado português e pentacampeão mundial com o Brasil.

Ontem o bebê chorão, hoje o segundo melhor jogador do mundo
A final de 2004 foi a última partida de Luís Figo em uma Euro
O capitão grego, Theodoros Zagorakis, ergue a taça da UEFA Euro 2004
Estava torcendo por Portugal, mesmo porque não gostava do estilo defensivo e retranqueiro que a Grécia adotou durante a competição, enfim aquele ano foi bem estranho para o futebol, tivemos o Once Caldas jogando do mesmo jeito e vencendo a Copa Libertadores, além do Santo André calando o Maracanã e conquistando a Copa do Brasil.

UEFA EURO 2008 - ÁUSTRIA/SUIÇA


Uma tragédia como aconteceu em 2004 não veríamos, primeiro porque a Grécia nem para Copa do Mundo de 2006 se classificou, e segundo porque nenhuma seleção até então conseguiu o bicampeonato da Euro. Naquele momento algumas seleções despotavam como favoritas, entre elas Alemanha, Itália e França, correndo por fora Portugal, Inglaterra e Holanda. Essa última que citei ficou como a principal atração da primeira fase, com o futebol apresentado e os dois resultados absurdos diante de seleções forte (vitória de 3-0 sobre a Itália na estréia e chocolate na França por 4-1).

Thierry Henry observa vexame francês diante da Holanda
Inevitavelmente, a atenção dos espectadores voltou-se para o time laranja depois de atropelar as duas seleções que fizeram a final da Copa de 2006, só que existe uma síndrome de tremedeira muito grande na Holanda que faz os jogadores pipocarem na hora de decidir e foi o que aconteceu nas quartas-de-final contra a outra surpresa do torneio, a Rússia, que passou com um 3-1 e classificou-se para as semi-finais. O engraçado é que a seleção russa tinha adotado um estilo holandês de jogar com seu técnico Guus Hiddink depois de estrear tomando uma sapatada de 4-1 da Espanha. Ah Espanha...

Andrey Arshavin calando a boca dos holandeses no terceiro gol russo
Nossa querida freguês de 2002, Alemanha, sempre impõe sua autoridade contra os adversários mesmo não jogando o melhor futebol, passou sem dó e nem piedade por Portugal de Felipão, no seu último torneio como comandante da seleção portuguesa. Discretamente, Croácia e Turquia faziam um jogo das quartas, decidido nos penâltis e vencido pela seleção vermelha que tanto nos deu dores de cabeça em 2002 também. O outro jogo das quartas foi Itália e Espanha, aposto que muitos na época apostaram na Itália, até mesmo nos penâltis... Por que todo esse favoritismo? Simples, a Espanha tinha um problema semlhante a Holanda, quando não tremia em decisões, dava o azar de ser prejudicada (como na Copa do Mundo contra a Coréia do Sul) ou pegava um adversário intragável. Só que naquele ano, quis o destino que tudo fosse diferente, e na "loteria" dos penâltis a "Fúria" passou pelos campeões mundiais, ganhando uma grande moral.

Philipp Lahm comemora o gol que colocou a Alemanha na final da Euro
Por um lado a Espanha reencontrou a sensação do torneio, Rússia, e não tomou conhecimento do time vencendo por 3-0, enquanto a Alemanha confirmava seu favoritismo passando pela Turquia por 3-2 em um jogo muito disputado. Espanha e Alemanha eram o centro das atenções dos olhos europeus, para o primeiro era uma façanha fantástica chegar a uma final de campeonato com a fama que tinha adquirido nas últimas décadas, enquanto o outro estava acostumado a sempre chegar em decisões. Assumo que estava torcendo para a Alemanha... só que o resultado repetiu-se como na edição passada!

Fernando Torres colocando a bola por cima de Jens Lehmann para fazer o único gol da final
Jogaores da Alemanha com cara de "bosque" após a derrota para Espanha por 1-0
O capitão espanhol, Iker Casillas, ergue a taça da UEFA Euro 2008
Sério, não vou torcer mais para ninguém na final da Euro, sou muito pé frio... acabou sendo muito surpreendente a Espanha conseguir o segundo título do torneio, a princípio poderia até parecer muita sorte isso acontecer, só que chegamos até aqui para provar o contrário!

UEFA EURO 2012 - POLÔNIA/UCRÂNIA


A edição passada marcou o início da hegemonia espanhola no futebol, depois da ascensão européia veio o inédito título da Copa do Mundo, conquistado em 2010 na África do Sul, e era impossível não indicar a Espanha como favorita na Euro 2012, juntamente com a Holanda (parcialmente curada da síndrome de amarelismo) e Alemanha, com Portugal, França, Itália, Inglaterra e Rússia. Mesmo com tantos candidatos, sabia-se que o final estava quase previsto pelo futebol apresentado e os resultados obtidos, faltava esperar quem seria o adversário da Fúria no último jogo do torneio.

Arjen Robben caminha enquanto os alemães festejam
O Troféu Papelão ficou para Holanda e Rússia, eliminados precocemente (?) da primeira fase; o time laranja atual vice-campeão mundial conseguiu perder os três jogos no grupo da morte formado por Alemanha, Portugal e Dinamarca), enquanto o time de Arshavin foi eliminado pela Grécia na última rodada no confronto direto, depois de uma estréia sensacional diante da República Tcheca. Essa Euro não teve muitas surpresas diferentemente das últimas edições, o que podemos destacar é a recuperação da Itália após uma Copa do Mundo vergonhosa e melhora da França, que foi ridícula na África do Sul também, mas que ainda não superou seus problemas de vestiários.

Nasri assiste a comemoração de Xabi Alonso, autor dos dois gols da partida no seu 100º jogo pela seleção
Todos estavam elogiando o futebol francês que havia se recuperado, despertando a minha curiosidade, aí quando tive a oportunidade de ver os Le Bleus em campo, acabei tendo um dejà-vu do que aconteceu em 2010 com um time apático e conformado em perder para o adversário, mesmo a Espanha não apresentando o melhor do seu futebol. Na fase eliminatória, aconteceu tudo dentro da normalidade, a única "surpresa" talvez foi justamente a Squadra Azurra passar pela Alemanha nas semi-finais com um atuação decisiva de Mario Balotelli, um dos principais personagens da competição.

Cristiano Ronaldo que nem pode ajudar Portugal a perder nas cobranças de penâltis
O clássico ibérico entre Espanha e Portugal mostrou o poder defensivo do time espanhol, que soube segurar a pressão no tempo normal e massacrou o time português na prorrogação, só que tantos esforços não foram o suficiente para evitarmos os penâltis. O cidadão acima, também conhecido como Cristiano Ronaldo não participou das cobranças, e mesmo que chutasse uma delas, provavelmente perderia porque ele é um jogador brilhante, o segundo melhor do mundo, mas na hora da decisão ele treme e acaba não sendo o jogador que tanto se espera. Infelizmente é assim, são coisas do futebol.

Miroslav Klose lamenta derrota alemã em sua última Euro
Na outra semi-final, Alemanha e Itália se reencontraram depois de 6 anos quando disputaram a semi-final da Copa do Mundo de 2006, naquela vez o time azul venceu os anfitriões por 2 a 0 na prorrogação e seguiram para a final. Algo dizia que a história se repetiria mais uma vez, e realmente aconteceu, com direito a dois gols de Balotelli e uma atuação defensiva exemplar, um jogador que causa vários problemas extra-campo, tem uma história de vida sofrida e um carisma e estilo diferente dos jogadores de futebol que estamos acostumados a assistir fora de campo, tecnicamente falando ele é um bom jogador e só. Não poderia ter adversário melhor para Balotelli expor sua mágoa e fúria em relação a discriminação étnica que ele sofre desde criança.

Leonardo Bonucci tampa boa de Balotelli para não sair um caminhão de xingamentos
Quanto a Alemanha, mais uma vez a geração de Klose, Lahm, Özil, Podolski, Müller, Neuer, Khedira e Mario Gómez falham em conquistar um título, porém há de ressaltar o trabalho de renovação do técnico Joachim Löw. A Itália ressurgiu das cinzas com Cesare Prandelli, que soube montar um time bem armado na defesa, com bom toque de bola e com técnica força ofensiva, pena que ele cometou um grande deslize na final do campeonato.

Filhos dos jogadores espanhóis fazendo a festa no gramado ucraniano
O garoto Balotelli em pratos após a humilhação na final da Euro
Mais uma vez o casal Sara e Casillas comemoram (tá na hora de casar né, Iker)
Não é brincadeira, estava torcendo para a Itália nesta final (identificação obtida graças ao Palmeiras), mas a diferença técnica, física e tática, somada a postura italiana, azar e qualidade do adversário contribuiram para o placar de 4-0, e olha que poderia ser mais. Acima falei que o técnico italiano contribui ainda mais para o massacre espanhol porque ele jogou seu time no ataque em vez de se resguardar mais como fez contra a Alemanha, tem que ser maluco para atacar um time tão bem postado em campo como é a Espanha.

Quanto a Fúria, passei a Euro inteira desconfiado desse futebol de toque excessivo na bola, só que na final os jogadores espanhóis fizeram aquilo que sempre esperei, chutaram no gol e tiveram agressividade, infelizmente foi contra a Itália, só que eles mostraram porque são os melhores do mundo hoje e serão por um longo tempo, decidiram no dia que precisava, jogaram o máximo que podiam e defenderam as cores de seu país como os jogadores brasileiros não fazem e não farão pelos próximos anos, justamente porque futebol é levado a sério por esses aqui:

1 Iker Casillas (Real Madrid-ESP)
17 Álvaro Arbeloa (Real Madrid-ESP)
15 Sergio Ramos (Real Madrid-ESP)
3 Gerard Piqué (Barcelona-ESP)
18 Jordi Alba (Barcelona-ESP)
16 Sergio Busquets (Barcelona-ESP)
14 Xabi Alonso (Real Madrid-ESP)
8 Xavi Hernández (Barcelona-ESP)
6 Andrés Iniesta (Barcelona-ESP)
21 David Silva (Manchester City-ING)
10 Cesc Fàbregas (Barcelona-ESP)
9 Fernando Torres (Chelsea-ING)
13 Juan Mata (Chelsea-ING)
7 Pedro Rodríguez (Barcelona-ESP)

Técnico: Vicente Del Bosque

Os jogadores que citei acima participaram da final e o técnico foi responsável por colocar todos esses caras para jogarem futebol, dos 14 nomes, apenas 3 jogam fora da Espanha, sem falar que o restante são do Barcelona ou do Real Madrid, principais times do país. Porque fiz isso? Quando tiver uma convocação da Seleção Brasileira perceba quanto jogadores estão aqui no Brasil e em outros países. Como é um montoado de jogadores que jogam em vários times, dificilmente terá entrosamento para jogar, precisará de tempo para treinar (coisa que Seleções não tem). Sabem porque o Barcelona tem tantos jogadores novos, bons e ganha quase tudo todos os anos? Porque é feito um trabalho de categorias de base, enquanto aqui nos grandes clubes do país, esses locais onde se deveria revelar jovens jogadores são mal aproveitados e quando promovem jogadores é por causa de indicação de empresários que visam ganhar dinheiro em negociações futuras, e não porque o moleque é bom de bola.

Todo esse ciclo reflete-se na Seleção, qual é o grande jogador do Brasil na atualidade? Neymar? O garoto que engravidou uma menina precocemente e todos passaram a mão na cabeça, ou que xingou e desacatou o técnico que estava trabalhando e foi demitido em vez do jogador, ou quem sabe o mesmo cara que vemos mais em comerciais de televisão do que dentro de campo jogando bola de verdade em vez de ficar caindo no chão ao menor contato físico. Sinceramente, não tem ninguém que se destaque como em outras épocas e estaremos perdidos na Copa do Mundo.

A Copa das Confederações acontecerá ano que vem como se fosse um vestibular para a Copa de 2014, Espanha e Itália participaram dela juntamente com Brasil, quem sabe não enfrentamos o time vermelho e veremos como eles são bons de bola para cairmos na real e fazermos mudanças nas estruturas corrompidas do futebol brasileiro.


O desabafo ofuscou um pouco o post sobre a Euro, acabei falando mais do que devia sobre as edições anteriores, mas precisa situar como essas seleções européias mudarão no decorrer dos anos. Parabéns a Espanha, que não deveria ser chamada de Fúria, mas sim Diablos Rojos, pelo futebol fantástico apresentado durante suas partidas.

Até a próxima!

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